— à escuta: CasaFloresta é um projeto de pesquisa, reflexão e criação artística em torno da floresta no Parque Naturalda Serra da Estrela e sua envolvente, concebido por Joana Sá, Luís J Martins, Corinna Lawrenz e Nik Völker.
Num território ameaçado pelos incêndios florestais e onde os efeitos das alterações climáticas, da monocultura do pinheiro e da desertificação se fazem sentir diariamente, à escuta: CasaFloresta procura formas de lidar com estes problemas a nível local para criar perspetivas a nível global e vice-versa. Relacionando-se com dois vales em extremidades opostas da Serra da Estrela, o projeto foi desenvolvido a sul, a partir da Casa da Guarda dos Covões (Balocas, Vide, Seia), em aldeias da sua envolvente (Balocas, Frádigas, Vide e Gondufo), e a norte, em Figueiró da Serra (Gouveia) entre junho e setembro de 2022, contando com espetáculos em contextos urbanos a partir de dezembro de 2022.
A Casa da Guarda dos Covões, desativada desde a década de 1970, serviu como espaço de residências e de reflexão: o que foi esta casa e que floresta é que guardava? Atrás da romantização da ideia de ‘casa que guarda uma floresta’, que relações de conflito se estabeleciam aqui? O que poderá querer dizer ‘guardar uma floresta’ nos nossos dias?
Partindo destas questões, Joana Sá e Luís J Martins trabalharam a partir da Casa da Guarda de Covões e Corinna Lawrenz e Nik Völker a partir de Figueiró da Serra. Em ambos os territórios, e com o apoio do realizador Lucas Tavares, foram realizadas recolhas em áudio e vídeo em e com as comunidades locais: memórias, histórias e ideias sobre a floresta e as formas como as comunidades se relacionam com ela.
Em paralelo, quatro residências interdisciplinares na Casa da Guarda dos Covões cruzaram estas recolhas com conceitos e pesquisas de convidados de diversas áreas: artes, biologia, filosofia, arquitetura, antropologia, história, estudos pós-coloniais e ativismo. Como resultado da experiência da casa e do encontro com as recolhas, estes residentes temporários - André Barata, Gisela Casimiro, Helena Antunes, Marta Correia, Marta Prista, Rafaela Aleixo, Rita Natálio, Sarita Mota, Susana Rodríguez-Echeverría - elaboraram contributos próprios para o projeto. Destes contributos e das recolhas junto das comunidades surge o fichário digital do projeto, um arquivo fragmentário que é a base para o anti-mapa virtual, desenvolvido em 2023 - uma “floresta” digital de conteúdos da pesquisa e reflexão e elementos dos processos criativos dos intervenientes.
O fichário digital continuará a crescer ao longo dos próximos meses, refletindo também como um projeto em torno da temática da floresta na Serra da Estrela e sua envolvente se tornou, pela situação de seca severa e pelo grande incêndio que destruiu perto de 30% do Parque Natural, um desafio mais complexo e exigente. Figueiró da Serra, uma das comunidades envolvidas no projeto, foi atingida pelo incêndio que destruiu cerca de metade do território da freguesia. Sabendo que não é possível excluir a experiência deste agosto 2022 da reflexão de CasaFloresta e devido ao alto risco de incêndio em espaços florestais, as apresentações da instalação artística na Casa da Guarda dos Covões e em Figueiró da Serra, inicialmente previstas para setembro de 2022, ficaram adiadas para junho de 2023.
Partindo de todo este conjunto de trabalhos, os músicos Joana Sá e Luís J Martins criaram a performance CasaFloresta com o realizador Lucas Tavares e ainda a instalação anti-mapa: floresta com Lucas Tavares, a designer Ana Viana, Corinna Lawrenz e Nik Völker. Desde dezembro 2022, esta performance-instalação circula em teatros por todo o país, acompanhada por assembleias de reflexão. A 17 de junho será apresentada na Casa Municipal da Cultura em Seia. Levando as urgências do interior para os centros urbanos e de decisão, CasaFloresta procura continuar a reflexão a partir destes novos contextos e desconstruir a ideia de que a floresta é apenas uma exterioridade a estes centros. Reconhecendo que a floresta sustenta as casas de espetáculo e a condição urbana, simbolicamente e em termos concretos (energéticos, arquitectónicos, sonoros, etc.), a reflexão procurará criar novos tipos de floresta (im)possíveis.